O Grupo VITA vem responder ao Postal do Dia, escrito por Luís Osório hoje, dia 26 de janeiro de 2024, procurando clarificar os factos e a verdade. Considera que as afirmações nele vertidas traduzem um profundo desconhecimento do trabalho que o Grupo VITA tem vindo a desenvolver e entende-as, portanto, como profundamente incorretas e injustas.
Neste Postal do Dia, Luís Osório escreve que “O tema da pedofilia na Igreja Católica morreu com o fim da Comissão Independente”, afirmando que “Pouco ou nada se tem falado do Grupo de Trabalho que substituiu a Comissão Independente que foi responsável pelo esmagador relatório sobre a pedofilia na Igreja Católica portuguesa” e que “É como se o assunto tivesse deixado de existir” e “tudo tivesse regressado à vida pachorrenta e habitual”. Neste mesmo texto, o autor escreve que “4815 crianças foram vítimas de abusos da Igreja entre 1950 e 2022”. Adiante, afirma que alguns dos abusados deixaram de confiar no Grupo VITA, que pôs “no mesmo saco agressores e agredidos, como se a ajuda que as vítimas precisam fosse o mesmo tipo de apoio que os seus algozes necessitam”. Acrescenta que os abusados “viram também o que antes não era possível – que bispos pudessem estar na mesma mesa dos especialistas em conferências de imprensa. Uma separação que era simbólica e que permitia a confiança de quem tem de sentir segurança por revelar sobre si o inominável”.
Sobre esta afirmações, temos a dizer o seguinte:
- Desde a data de início do seu funcionamento, a 22 de maio de 2023, o Grupo VITA tem vindo a desenvolver um trabalho intenso e muito abrangente e que se encontra devidamente espelhado no 1.º Relatório de Atividades (disponível em grupovita.pt). Convidamos o autor do Postal do Dia a ler este documento, para que fique devidamente informado.
- Relativamente ao número de vítimas de abuso sexual na Igreja Católica em Portugal, o relatório da Comissão Independente apresenta apenas uma estimativa, que foi estatisticamente calculada com base nos 512 testemunhos (a maior parte deles, anónimos) que foram validados (desconhecemos como).
- As vítimas que, segundo se afirma, deixaram de confiar no Grupo VITA não são, sabemo-lo de fonte segura, de modo algum representativas de todas as vitimas existentes. São vítimas que se mostram focadas, apenas e tão só, na eventual possibilidade de uma reparação financeira, desvalorizando todas as outras ações preventivas e reparadoras que possam, de igual modo, ser implementadas (e nas quais o Grupo VITA tem vindo a trabalhar; a este respeito, destacamos também o “Manual de Prevenção da Violência Sexual contra Crianças e Adultos Vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal”, disponível no site do grupo).
- As vítimas e os agressores não são colocadas “no mesmo saco”, porque de pessoas se tratam e é de pessoas que falamos. Pessoas com necessidades distintas que precisam de intervenções diferenciadas. O Grupo VITA é constituído por diversos profissionais que, de forma separada, intervêm com vítimas e com agressores, pautando a sua intervenção por aquelas que são as boas práticas, reconhecidas nacional e internacionalmente.
- A este respeito, destacamos ainda o facto de existirem também, na sociedade civil portuguesa, entidades que intervêm desta forma holística. A título de exemplos, referimos o “GEAV – Gabinete de Estudos e Atendimento a Agressores e Vítimas”, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, bem como o “Gabinete de Psicologia Forense” do Laboratório de Ciências Forenses e Psicológicas Egas Moniz.
- A intervenção com agressores sexuais é imprescindível para prevenir a sua reincidência e, dessa forma, proteger outras crianças.
- Sobre o Grupo VITA sentar-se à mesma mesa com a Igreja, refira-se que, pelo menos em três situações distintas, o coordenador da Comissão Independente, Dr. Pedro Strecht, sentou-se à mesma mesa com o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, também em conferências de imprensa. Significa isto que, desde então, tenha deixado de existir uma separação simbólica entre o grupo e a Igreja? Claro que não. Significa, sim, que os grupos de trabalho podem trabalhar em colaboração com a Igreja e, ainda assim, manter a sua total independência, isenção e rigor.
- Por fim, sublinhamos que o facto de o tema não estar diariamente na comunicação social não significa, de forma alguma, que o tema tenha deixado de ser assunto. O Grupo VITA continua diariamente a atender pedidos de ajuda e a efetuar os devidos encaminhamentos, a apostar na capacitação das diversas estruturas da Igreja e a desenhar programas preventivos, procurando reparar o passado, atuar no presente e prevenir no futuro.
- A pedido da CEP, o Grupo VITA está também dedicado ao estudo da forma como poderá ser equacionado um processo de reparação financeira das vítimas, tendo já reunido com diversos especialistas, de modo a apresentar em breve uma proposta junto da Igreja.
Neste contexto, muito lamentamos aquilo que é escrito por Luís Osório e que traduz alguma desinformação, que pretendemos corrigir. O autor do Postal do Dia está desde já convidado a conhecer melhor o trabalho do Grupo VITA, caso assim deseje.
O Grupo VITA pode ser contactado através da linha de atendimento telefónico (91 509 0000) ou do formulário para sinalizações, já disponível no site www.grupovita.pt.
Lisboa, 27 de janeiro de 2024.
A Coordenadora do Grupo VITA,
Rute Agulhas